Estimular o gosto das crianças por alimentos saudáveis não deve ser tarefa das mais fáceis – ainda não posso palpitar com propriedade, mas pelo relato de amigas e familiares, trata-se de um desafio diário. Acontece que isso seria muito mais simples caso os próprios paisdessem o exemplo à mesa. Essa é uma das conclusões do trabalho de mestrado da nutricionista Luciana Lorenzato, do Laboratório de Nutrição e Comportamento do Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Esse estudo contou com a participação de 150 pais e de seus respectivos filhos, com idades entre 2 e 11 anos. Para realizá-lo, Luciana fez uma entrevista individual com as mães e aplicou o Questionário de Alimentação da Criança, conhecido como QAC. Depois, avaliou o peso e a estatura tanto das mães como dos filhos. “15% das crianças e 27% das mães apresentaram excesso de peso”, revela a pesquisadora. Ela comenta que achou interessante o fato de haver uma correlação positiva entre o peso dos filhos e o dos pais, pois evidencia que o estado nutricional dos pequenos pode estar associado ao de seus progenitores. “O peso dos filhos aumentava conforme subia o peso dos pais”, resume.
Segundo ela, diversos artigos demonstram que os pais desempenham um papel central no desenvolvimento do comportamento alimentar infantil. “Eles proporcionam o contexto para as primeiras experiências alimentares dos filhos, na medida em que exercem controle sobre o tipo de alimentos oferecidos, o tamanho das porções, o horário das refeições, o contexto afetivo das ocasiões alimentares, etc.”, explica. Contudo, é possível que as ações dos pais resultem – sem intenção, é claro – em efeitos desfavoráveis sobre os hábitos alimentares da criançada. Aí, o risco de obesidade cresce.
Veja como isso se dá na prática: quando um determinado alimento é ofertado à criança comorecompensa por algo positivo, como terminar a lição da escola, a preferência por esse item é reforçada. “E geralmente eles tendem a ser palatáveis e pouco saudáveis, com alto teor de gordura, açúcar e sal”, exemplifica a nutricionista. Ou seja, presentear o pequeno com uma barra de chocolate só porque ele topou tomar banho pode ter mais impacto na saúde do que se imagina.
E sabe aquela tática de só oferecer a guloseima caso o pequeno termine o prato de salada? Ela também pode abalar seu bem-estar. Isso porque a criança sempre associará o consumo de verduras e legumes a algo penoso – não à toa ela ganha um presente depois do “sacrifício” de comê-los. “O trabalho atesta, então, que as atitudes, crenças e práticas dos pais durante a alimentação dos filhos pode favorecer o aparecimento da obesidade infantil”, resume Luciana. Para não ficar só nas estratégias inadequadas, a nutricionista aponta quais as melhores atitudes que os pais precisam tomar para incentivar que os filhos se alimentem de forma saudável. Confira:
1. É importante manter os horários e o fracionamento das refeições (café da manhã, almoço e jantar, além de dois lanches intermediários e uma ceia), sem esquecer-se da ingestão de água ao longo do dia. Assim, o metabolismo e a digestão ocorrem de forma adequada. Sem contar que esse costume reduz a probabilidade de a criança procurar guloseimas e exagerar nas refeições.
2. É difícil retirar os doces, refrigerantes e guloseimas das crianças, mas é importantecontrolar os excessos. Os pais nunca devem trocar os alimentos ricos em nutrientes por esses alimentos muito menos utilizá-los como recompensa por um bom comportamento.
3. Outra dica é fazer a criança participar do planejamento, da compra e do preparo das refeições, o que pode até se tornar uma brincadeira saudável.
4. O mais importante é que os pais devem servir de exemplo, consumindo alimentos saudáveis junto com as crianças e evitando fast-food. As refeições devem ser realizadas à mesa com a família, lembrando que o público infantil aprende por meio do exemplo.
5. A recusa que as crianças apresentam em relação a muitos alimentos não deve ser considerada uma aversão permanente, pois normalmente o aumento da aceitação ocorre somente após 12 a 15 apresentações. Logo, os pais não devem desistir nas primeiras tentativas. Até porque um mesmo alimento pode ser oferecido de formas diferentes.
6. Colocar na rotina da molecada atividades ao ar livre também é fundamental. Isso evita que elas passem muito tempo em frente da televisão, do computador ou do videogame.
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